Centro histórico de Sintra ("Vila Velha"), Património da Humanidade, Verão de 2009.
A 1ª imagem mostra parte de um grande parque de estacionamento (gratuito) que existe mesmo junto do centro histórico. Está quase vazio.
A 2ª imagem mostra o centro da Vila Velha. Cheio de carros. De manhã e de tarde, é frequente encontrar-se aqui um ou dois agentes da polícia, para fiscalizar o estacionamento. Apesar de os agentes fecharem os olhos a quase tudo (mesmo aqui há carros a bloquear a passagem de peões, perante a indiferença da polícia), a sua presença contribui para que os automobilistas normalmente não arrisquem (quando os agentes se vão embora, é o pandemónio...).
Mas logo nas ruas ao lado começa o triste espectáculo dos passeios ocupados por carros, tendo os residentes e os turistas que circular no asfalto, no meio do trânsito (constante) de carros (imagens 3, 4 e 5). Uma placa bem visível (6ª imagem) ainda tenta disuadir os automobilistas de ir de carro para a Quinta da Regaleira: são só 5 minutos a pé, diz a placa. A verdade é que nem 5 minutos são, e o percurso é acessível a qualquer ser humano com mais de 3 anos e menos de 80. Mas os turistas portugueses insistem em levar os carros, que depois estacionam nos passeios (imagens 7 e 8). Entre outros turistas muito pouco satisfeitos com isto, vi uma espanhola com um carrinho de bebé, irritadíssima por ter de andar com o bebé no asfalto. São as férias dela. Voltará a Portugal? Duvido muito.
Por aqui existe um excelente serviço de "shuttles" que circulam durante todo o dia, com grande regularidade (10 a 15 minutos), com paragens na Vila Velha, na Relageira, no Castelo, na Pena, etc. Os estrangeiros utilizam-nos, os portugueses não. A Vila Velha de Sintra podia bem ser vedada ao trânsito (excepção para residentes). Assim não é fácil andar aqui a pé, até porque os passeios, mesmo quando não têm carros em cima, são incrivelmente estreitos. Está muito longe de ser agradável ser turista em Sintra.
Cidadela de Carcassonne, Património da Humanidade, França.
Estamos perante uma área maior do que a do centro histórico de Sintra. Mas os turistas não entram aqui de carro. Os carros ficam estacionados fora das muralhas, em descampados que servem de parques de estacionamento. O estacionamento implica o pagamento de uma taxa. Os turistas que têm alojamento reservado dentro da cidadela deixam o carro fora das muralhas (num sector de estacionamento específico) e são gratuitamente transportados (com as bagagens) em pequenas carrinhas até ao hotel. Dentro da cidadela, todos os turistas andam a pé e, claro, não há carros em cima dos passeios (imagens 9,10 e 11). E não é por isso que Carcassonne deixa de ter visitantes: pelo contrário, é um dos principais destinos turísticos de toda a França...
Marvão
(últimas duas imagens), pequena vila amuralhada do Alentejo, candidata a Património da Humanidade, é muitíssimo mais pequena do que Carcassonne, e por isso mais se justificaria uma solução do tipo da que existe nessa cidade francesa. Fora das muralhas, já existem parques de estacionamento com lugares de sobra para toda a gente. Mas os carros podem entrar livremente nas muralhas e, como estamos em Portugal, os abusos são frequentes. Durante o Verão, e no resto do ano aos fins-de-semana e feriados, é banal encontrar-se carros nos locais de passagem dos peões. Em tempos existiu um projecto para vedar o trânsito automóvel no interior da vila (com excepção para residentes), mas a ideia mereceu tal oposição dos comerciantes locais que acabou por ser metido na gaveta...
Excelente post. Parabéns!
ResponderEliminarCoincidência ou não, a única fotografia em que aparecem pessoas com sacos de compras é em Carcassonne.
ResponderEliminarSintra é uma vila com uma afluência turística enorme. Não deve haver turista estrangeiro que vá a Lisboa e deixe de visitar Sintra. Nos fins-de-semana e no verão, aos estrangeiros acrescem milhares de portugueses. Os turistas não vão a Sintra para passear de carro, vão para passear a pé pela vila. Mas o que lá encontram é um pandemónio de trânsito, de condutores que vão até ao centro tentar o milagre de encontrar um lugar de estacionamento. São frequentes os engarrafamentos, no verão e ao fim-de-semana. Para piorar, os passeios são estreitos. Com carros em cima, pior ainda. Durante o dia, às horas de expediente, costuma por lá estar a polícia, mas praticamente só lá está para orientar o trânsito. Os abusos começam a poucos metros do largo do centro, de onde os agentes não saem. E às vezes nesse mesmo largo há carros a obstruir a passagem dos peões, o que torna tudo mais ridículo. Na segunda fotografia consegue-se ver, por exemplo, um carro preto, antes de um autocarro, estacionado no seguimento de um passeio. O dono estava a tomar um café e a ler o jornal na esplanada. Nesta altura, estavam no largo 2 agentes da polícia, que nada fizeram.
ResponderEliminarAliás, neste mesmo dia, em frente à esquadra, perto da estação da CP, deparei-me com um veículo da polícia a estacionar no passeio. O que diz tudo...
O exemplo que dei da espanhola com o carrinho de bebé dá para ter uma ideia de como se sentem os estrangeiros quando andam na vila velha. Ficam maravilhados com Sintra, mas não conseguem compreender este pandemónio. A espanhola estava mesmo irritadíssima e cheia de medo porque estava a circular com um bebé numa estrada estreita com muito movimento de carros a passar, muitas vezes em excesso de velocidade.
Mas se surgisse a ideia de fechar a vila velha ao trânsito, ui, o que viria aí de contestação dos comerciantes locais...
Marvão não é um pandemónio como Sintra, mas é uma aldeia tão pequena e as ruas são tão estreitas que é ridículo deixarem lá entrar os carros dos turistas, só para não andarem mais uns metros a pé desde os parques de estacionamento que existem fora das muralhas. Comparando com a cidade amuralhada de Carcassonne...
J.Freitas
Só para acrescentar que fui a Sintra com uns amigos alemães que estavam a passar férias em Portugal. A forma como olhavam para o pandemónio e para os carros em cima dos passeios é indescritível. Ao fim do segundo dia lá se decidiram a comentar o assunto comigo. Tive de lhes dar razão, claro. Não há justificação para a nossa Sintra ser assim.
ResponderEliminarJF
Não era preciso citar o exemplo de carcassone. Ou estou muito enganada, ou em Óbidos os carros também não entram, ficam nos parques de estacionamento cá fora. Bom, mas reconheço, é um oásis neste país...
ResponderEliminarPor favor, quem puder, envie isto para as câmaras. quanto mais receberem, melhor...
ResponderEliminarSintra é um crime estar na mão dos portugueses, assim, como Marvão, Arrábida, Gerês, Évora, S. Estrela, Monsanto e tantos outros belos locais em Portugal. Até o Algarve posso incluir nessa lista.
Ia falar de Óbidos que é como Carcassone, mas já foi falado. Acrescento apenas que a única vez que lá fui, quis estacionar, tinha de meter moedinha, não havia onde trocar uma nota naquele descampado, ir à vila a correr e voltar nem pensar por causa da distância, e arriscar também não por causa da fiscalização. Esperámos alguns minutos que aparecesse algum fiscal, e fomos embora. De Óbidos vimos apenas o parque em terra batida...
ResponderEliminarvcs n percebem nada... os gajos não têm carros porque são uns pobretanas terceiro-mundistas. Nós é que somos um país rico e desenvolvido, com muitos carros, muita merda de cão nos passeios, muito lixo à volta dos ecopontos e, claro está, as belas marquises!
ResponderEliminarMarquises? Mas já viram alguma marquise mal estacionada? Eu ainda não vi, mas quando vir, tiro um boneco e mando-o para aqui...
ResponderEliminarGrande ideia, este post!
ResponderEliminarConheço os 3 sítios e confirmo praticamente tudo o que está aqui escrito.
Mas com uma ressalva, quanto a Carcassonne. A circulação de veículos dentro das muralhas é (pelo menos era) permitida durante a noite (salvo erro, entre as 23h e as 7h). Nomeadamente, para cargas e descargas dos comerciantes, e mesmo para os turistas que ficam alojados dentro das muralhas poderem deixar o carro num parque subterrâneo existente no interior.
Mas durante o dia o acesso automóvel é mesmo proibido. Os parques de estacionamento no exterior (sim, são descampados, não são estruturas feias de alcatrão e cimento) são muito grandes e a organização é quase perfeita: estão divididos por sectores (os turistas com alojamento no interior das muralhas, por exemplo, ficam num sector específico) e não faltam funcionários a orientar os percursos e o estacionamento - funcionários pagos com o dinheiro das taxas de estacionamento que os automobilistas pagam.
Para quem nunca tenha estado em Carcassonne: a afluência de turistas é realmente enorme, durante todo o ano. São hordas de turistas, vindos de todo o mundo. E toda a gente anda a pé, não tem outro remédio! Incluindo os muitos portugueses que por lá se encontram sempre a fazer turismo...
Sintra é um desânimo, um caso flagrante de péssima imagem que damos aos turistas que nos visitam. Acho que nunca vi aquele parque de estacionamento (o da primeira imagem) cheio. O que tem "sucesso" é o estacionamento no centro e nas ruas em redor, que é um caos.
Também já fui duas vezes à Quinta da Regaleira a pé. Todos os turistas que vi a fazer esse percurso a pé eram estrangeiros (isto não é uma sondagem, mas não admira se for sempre assim...). Os portugueses vão de carro. Quando lá chegam e constatam que os lugares disponíveis, que são muito poucos, estão todos ocupados, não voltam para trás: deixam os carros nos passeios. Os passeios vão-se enchendo e quem quer que vá a pé não tem outro remédio senão ir pelo meio da estrada. É muito mau.
Os autocarros disponibilizados pela Câmara Municipal de Sintra (os tais "shuttles" de que fala o post) foram uma grande ideia, mas, como todos sabemos, os portugueses não são adeptos de transportes públicos, especialmenmte quando se continua a "oferecer" a alternativa de usar o automóvel e de o estacionar nos passeios "disponíveis".
Quem quer que conheça minimamente Sintra percebe que o centro da vila não tem, nem pode ter, capacidade de estacionamento para tanta procura. O fecho ao trânsito é uma excelente ideia! O que a vila ganharia com isso!
Marvão é um caso diferente. Não tem um problema grave de estacionamento abusivo. Mas aqui seria muito mais fácil vedar o interior das muralhas ao trânsito, e essa seria uma medida quase "óbvia", tendo em conta as características da vila.
Neste momento, está a decorrer um inquérito em Marvão, dirigido aos turistas (disponível no posto de turismo), em que uma das coisas que perguntam é se concordaríamos com a proibição do acesso aos automóveis no inrerior das muralhas, tendo de deixar os carros estacionados no exterior. Estou curiosa para conhecer os resultados desse inquérito...
Como provavelmente a maior parte dos turistas no Marvão são portugueses, já estou à espera do resultado desse inquérito.
ResponderEliminarJá agora uma achega. Há quatro anos fui a Espanha (povo de cultura mediterrânica, católica, e para muitos portugueses, possuidor de todos os defeitos que um povo pode ter) onde passei uma temporada. Como não podia deixar de ser levei o carro. E também como não podia deixar de ser estacionava nos passeios (com a rodinha de fora claro, para deixar espaço). A minha temporada anterior tinha sido em Lisboa... Fi-lo muitas vezes até que um dia um amigo olhou para mim com a cara mais séria com que alguma vez o vi e disse-me: "los coches no se aparcan sobre la acera, por los niños, los mayores y los descapacitados".
Ora toma lá disto Evaristo! E eu, com muitos kilómetros percorridos, moço bem formado, autodenominado cidadão activo, etc e tal, fiquei boquiaberto sem saber o que lhe dizer...Ele também não queria que lhe dissesse nada, só queria que eu não estacionasse no passeio. E foi o que fiz depois disso. É curioso, só depois é que me apercebi, mas na cidade onde estávamos era possível ver pessoas de cadeira de rodas (eléctrica) a passear o cão à meia noite. É um exemplo, de algo que nunca vi em Portugal. Obviamente que existem pessoas cá com cadeiras de rodas, talvez até com cão, mas num país de bestas do 1º mundo como eu, que estacionamos em cima do passeio "com um espacinho para o peão", nunca poderemos ver uma situação destas. E a culpa será sempre dos "autocarros que quando passam ocupam a estrada toda".
Um amigo regressado da Finlândia comentava que achou estranho que havia lá muitas pessoas em cadeiras de roda. Cá tb há, mas estão fechadas em casa!
ResponderEliminarOutro exemplo tipo marvão é valença do minho, com a diferença que os carros não só circulam lá dentro como existe um generoso parque gratuito dentro das muralhas, para além grande parque fora das muralhas.
ResponderEliminarSim, Valença é outro mau exemplo, embora com características um bocado diferentes das de Marvão. Marvão é uma vila inadequada para a circulação automóvel (ruas muito estreitas, não permitem que carros e pessoas circulem ao mesmo tempo). Mais parecido com Marvão será Monsaraz, por exemplo.
ResponderEliminarMas sim, Valença é outra vergonha e tem também muitos turistas. E muitos lugares de estacionamento dentro das muralhas. E mesmo quando não há, os portugueses inventam uns...
Belos apontamentos...
ResponderEliminarEstive há pouco tempo em Monsaraz, e pude verificar que fora das muralhas há parques de estacionamento gratuito para deixar os carros.
ResponderEliminarLá dentro, o trânsito é proibido excepto a moradores. Quando lá fui, deixei o carro cá fora, num dos parques, e andei a pé pela vila toda. De outra forma não podia ser, a vila é pequena e o passeio a pé é bastante agradável! Sintra deveria seguir o mesmo exemplo.
Meus caros amigos, perante o desleixo das autoridades e a falta de civismo destes selvagens que se julgam com direito a estrada e passeio, há uma maneira muito discreta de resolver o assunto ou pelo menos desincentivar os "chicos- espertos". Basta que, sempre que tenhamos que abandonar o passeio por onde seguimos, para saltarmos para o meio da estrada porque há um carrito a bloquear-nos o caminho, pegarnos numa chavinha (de carro ou de casa) e com força suficiente para fazer saltar a tinta, deixarmos o rasto da nossa passagem bem marcado de uma ponta à outra do carrito.
ResponderEliminarAposto que ao fim de dois ou três "rastos" da nossa passagem, o dono do brinquedo começará a equacionar a hipóteses de não colocar as patinhas do carrito sobre o passeio destinado aos peões.
Pode ser uma medida algo drástica, mas esta gente só compreende este tipo de linguagem. Apenas com palavras, infelizmente, não vamos lá!
Faísca, conheço um que já levou uns 10 autocolantes, já lhe riscaram o carro, até cocó eu já vi no para-brisas, mas continua a limpar/arranjar o carro e coloca-o no mesmo lugar todos os dias. penso que até já foi autuado.
ResponderEliminare esta, hem?
Ao escrever este post, não me referi à tal possibilidade de circular de carro à noite em Carcassonne, porque, a bem dizer, desconhecia isso...
ResponderEliminarQuanto a Sintra, outro sistema mau é o de se permitir o estacionamento automóvel junto ao Palácio da Pena e junto do Castelo dos Mouros. Os lugares disponíveis também são poucos, claramente insuficientes para a procura, que é muita, e o resultado está à vista: o cáos no trânsito e no estacionamento junto a esses dois monumentos e uma intensidade anormal de trânsito na estrada que vai de Sintra a esses dois monumentos, uma estrada estreita e cheia de curvas.
Deveria bastar o "shuttle" que faz esse percurso, com rapidez.
Sintra podia bem ser um destino turístico paradisíaco...
JF
JF, quanto a Carcassonne, pelo menos há 3 anos era assim. Quanto ao horário, não tenho a certeza do horário que indiquei. Talvez uma pesquisa na net ajude a esclarecer.
ResponderEliminarQuanto à ideia de acabar com o estacionamento junto do Castelo e do Palácio da Pena, é mais uma excelente ideia, pelo menos para os fins-de-semana, feriados e períodos de maior afluência (verão, sobretudo).
Monsaraz, quanto a trânsito, é um exemplo do que poderia ser Marvão. Mesmo assim, há quem desrespeite a proibição de entrar dentro das muralhas...
Pois, mas falta dizer que Carcassonne está cheia de parques de estacionamento do lado de fora da muralha.
ResponderEliminarHá lugar para muito mais carros do que os todos os que enchem Sintra. Há una anos fez-se uma guerra porque queriam construir um parque enterrado na Volta do Duche e tirar os carros da rua.
Cheguei há uns dias de umas férias em Lyon, França, e o regresso foi um choque. Carros, carros e mais carros. E passeios cheios de carros, carros e mais carros. E a polícia a ver, a ver e a ver. E nós com vontade de emigrar, emigrar, emigrar. Para um país de gente civilizada.
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