O Automóvel Club de Portugal divulgou um comunicado em que, entre outras coisas - sempre a favor da circulação automóvel em prejuizo de alternativas de transporte público ou de mobilidade suave - declara-se contra a proposta de eléctricos rápidos por ser esse "um modelo utilizado internacionalmente para cidades pobres, como Bogotá".
Publicamos aqui uma reacção a esse comunicado do ACP, assinada pelo seu autor.
O novo-riquismo é uma doença de carácter que se caracteriza pelo medo-pânico de parecer pobre. Conduz a comportamentos frequentemente ridículos de ostentação desenfreada, e impõe a quem sofre dessa doença um estado de sobressalto permanente. Tem entre pessoas que enriqueceram derrepente as suas vítimas preferenciais, mas, mais raramente, atinge pessoas já nascidas ricas e, ainda mais raramente, atinge instituições.
Como não há nada que faça supôr que as ideias adoptadas por países pobres são necessariamente más (ou boas), julgo que o ACP foi tomado por um surto agudo de novo-riquismo quando esgrimiu como argumento contra a proposta de criação de linhas de electricos rápidos em Lisboa o facto de ser "um modelo utilizado internacionalmente para cidades pobres, como Bogotá".
Sem chegar a entrar no mérito dos eléctricos rápidos, não posso deixar de apontar o carácter tacanho da argumentação do ACP, que, de resto, é perfeitamente condizente com a cultura de fetichismo automobilístico que impera em Portugal. É o carro como símbolo de poder, instrumento de ostentação de uma riqueza que, às vezes, falta para as prestações da casa. "Eléctricos, bicicletas, autocarros, combóios, bah, isso é coisa de pobre", é o que, tirado o verniz, fica do comunicado do ACP.
Mário Negreiros
PS: Por acaso, não me consta que Lisboa seja uma cidade rica.