Ontem fui eu o alvo do autocolantezito, que, sabe-se lá por que motivo, falava do meu umbigo, que julgo ser desconhecido do autor da proeza.
Assinalo que o meu carro estava estacionado num bairro muito populoso, e apenas "ocupava" uns 20 centímetros de uma passadeira de peões, deixando todo o resto disponível para estes poderem atravessar, em segurança, a rua.
Ora, o que me parece é que colocarem um autocolante no vidro é um absoluto desrespeito pela propriedade alheia. Estive mais de um quarto de hora a retirar os restos dessa brincadeira do meu vidro, dado que pretendia usar o privilégio de abrir a janela do carro...O tal autocolante era portador de uma cola de grande eficácia, o que tornou a sua colagem num acto de vingançazinha de quem, sob a capa degrande cidadão interessado no bem da comunidade, ocultou a sua identidade.
Prezo-me de ser uma pessoa civilizada, e devo dizer que dei várias voltas ao quarteirão até arranjar um lugar para estacionar que não incomodasse ninguém. E neste lugar, o carro não incomodava, realmente, ninguém (nem o trânsito, nem os peões), excepto, claro está, o tal pseudo cidadãozeco...
Acho muito bem que realizem esta campanha. Acho muito bem alertem os automobilistas que estacionam em locais indevidos e incómodos para os outros. Mas ficar-vos-ia muito bem se, em vez do acto vingativo e anónimo –muito português - de colarem um papel no vidro (que demora muitos minutos a retirar), o coloquem, sem cola, no limpa-vidros do automóvel“prevaricador”. Tal atitude daria dignidade à vossa campanha (que, como está, anda a perdê-la, por ser vingativa e agressiva), dissiparia a ideia do "valetudo", e até propiciaria que, o automobilista "alvo" do tal papel no limpa-vidros o aproveitasse para colocar num outro carro"prevaricador".
Mas, se querem usar autocolantes com cola de longa duração, então coloquem-nos nas janelas dos vossos quartos, ok? Guardo anonimato do meu carro e do local onde foi "agredido", porque, quem coloca os autocolantes será portador de um espiritozinho vingativo, e não tenho paciência para retaliações. Repito: civilizem-se, não agridam os automóveis alheios, continuem com a campanha, que aliás me parece sensata, mas coloquem os papelinhos, sem cola, presos no limpa-vidros.
A nossa respostaCaro Anónimo:
De facto, não conhecemos o seu umbigo e duvidamos que quem tenha aplicado o autocolante no seu carro estacionado em cima de uma passadeira o conheça. Se o caro Anónimo olhar para o seu umbigo (e permita-nos supôr que o faz com alguma frequência), há de perceber que não verá mais nada do que se passa à volta. É daí que a expressão "só olha para o próprio umbigo" assumiu o sentido de "só olha para os seus interesses, desprezando o efeito que causa aos outros". Nesse sentido, é legítimo supôr uma hipertrofia do umbigo de quem tem tanta sensibilidade para o que chama de "um absoluto desrespeito pela propriedade alheia" (o nosso autocolante) e julga perfeitamente aceitável a usurpação do espaço público (pelo seu carro).
Se o seu carro ocupava 20 cm de uma passadeira para peões, estava 5,2m (metros!) além do que a Lei permite. E, se ainda estiver a olhar para o seu umbigo, pedimos que interrompa a contemplação só por alguns minutos - o tempo suficiente para perceber o sentido da imposição dos 5 metros como distância mínima da passadeira: é que o carro estacionado em cima da passadeira, ou a distância inferior à estabelecida pela Lei, impede a visibilidade dos outros condutores, de maneira que o peão que use a passadeira lhes aparecerá de repente. É, de facto, um estacionamento cuja selvageria é menos espalhafatosa do que em cima dos passeios, mas potencialmente mais perigoso.
Recapitulando: há um senhor que se diz civilizado e que estaciona o seu carro em cima da passadeira, e há outra pessoa, que não se atribui nenhum epíteto, que lhe aplica um autocolante. Entre os dois, só um será "pseudo-cidadãozeco".
Creia que, se o que nos animasse fossem "espíritos vingativos", as consequências seriam muito maiores do que "mais de 15 minutos" a tirar um autocolante. Não subestime a nossa indignação.
Saudações,
Passeio Livre