Um protesto

Bom dia,

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que percebo a existência do vosso blog e do vosso movimento cívico. É realmente vergonhoso o estado em que estão os passeios deste país e a quase inexistência de lugares de estacionamento para a quantidade de carros que existem. Cabe às entidades próprias criar condições para que os peões não tenham que andar constantemente de carro, porque não têm forma de chegar ao local de trabalho, ou criar condições para que, já que têm que andar de carro, ter local para o estacionar devidamente o seu veículo sem incomodar os peões.

Tendo dito isto, quero também dizer o seguinte: moro numa zona residencial de Lisboa, onde é LITERALMENTE impossível estacionar sem utilizar os passeios. Recentemente a Junta de Freguesia tomou medidas para colocar pilaretes para impedir o estacionamento nos passeios e o que é que aconteceu: as pessoas passaram a estacionar na rua, no meio da faixa de rodagem provocando no que antes era um bairro sossegado, diversos problemas de trânsito. Estas medidas são inconcebíveis.

Até costumo ter o bom senso e o cuidado de:

1. tentar deixar espaço para os peões passarem no passeio;
2. não estacionar à porta de casa das pessoas para não as incomodar.

E foram precisamente estes dois cuidados e regras pessoais que ontem cumpri. No entanto, cheguei ao meu carro e o mesmo tinha sido vandalizado (sim, porque manusear propriedade alheia é vandalismo) por este movimento cívico, que se considera extremamente legitímo.

Lamento imenso, mas não acho que esta seja a forma correcta de abordar esta questão. Aliás, não acho que isto seja mais correcto do que riscar o carro!

Peço que tenham tanta consideração pelos condutores como tentam ter pelos peões. A vida não é a preto e branco e estas situações não são tão claras como podem parecer. E dirigirem a vossa raiva aos dirigentes municipais, que só não estacionam nos passeios porque têm garagem para pôr o carro, não vos parece mais indicado? É que até nem me importava de estacionar como deve ser e tal, mas não consigo, por isso tenho que me safar... Não ter carro está fora de questão... Os transportes públicos não me permitem ir para o trabalho e regressar a casa...

Assim sendo, caros senhores, agradeço que tenham mais consideração pelas pessoas que, não tendo um local correcto para estacionar o carro, estacionam o carro no passeio, tentando incomodar o minímo possível os peões.

Cumprimentos,
RP (omitimos o nome da autora do protesto por não termos a autorização expressa de o tornar público).

A Nossa Resposta

Cara RP,

Muito obrigado pelo longo e cuidado protesto. Tentaremos responder da mesma forma. No fundo, esta iniciativa é uma forma de iniciar uma conversa. Ficamos sempre curiosos de saber quais os bairros de Lisboa onde "é impossível estacionar legalmente". Acredite que existem muitas pessoas que, morem onde quer que morem, nunca estacionaram o carro no passeio.

É de louvar o seu altruísmo em deixar espaço para os peões passarem. Se calhar repara até que os peões contornam o seu automóvel. Nunca terá pensado porém, como é agradável andar a pé com um amigo lado a lado. Ou já terá imaginado a odisseia que um invisual tem de percorrer se quiser sair à rua. E acha que a medição a 'olhómetro' do que considera espaço suficiente chega para qualquer cadeira de rodas, ou para qualquer carrinho de bebé? Alguma vez tomou alguma atitude para que tivesse de deixar de estacionar ilegalmente?

Fala em vandalismo, e define-o como "manusear propriedade alheia". Em primeiro lugar, é muito discutível que o simples "manuseamento" configure um vandalismo. Mais razoável seria falar em "danificar". O autocolante não danifica. Mas, além disso, pergunto-lhe se há alguma razão para não aplicar o mesmo rigor quando o património não é privado, mas público. Por que o "manuseamento" do passeio público por carros particulares (que, além de transtornos, causam danos ao passeio) seria menos vândalo? Aliás, já tentou falar mal do autocolante sem usar palavras que se apliquem - e com maior gravidade - ao estacionamento em cima dos passeios e passadeiras?
Mas o mais importante era que nos desse alguma boa razão para que os problemas de estacionamento (cuja gravidade ninguém discute) sejam resolvidos às custas dos peões.

Atenciosamente,

O passeio.livre

13 comentários:

  1. Começo a ficar um bocadinho farto desse discurso do "compreendo mas...". Quem se acha muito bonzinho por ter o "bom senso" de abusar mas só um bocadinho é quem mais mecanismos arranja para justificar o injustificável, em arranjar desculpas para comportamentos indecentes e dormir como um justo depois de ter atropelado a mais primária justiça. A invasão do espaço pedonal é um abuso. Um abuso é um abuso. Quem abusa é abusador. Conheço um sujeito com artrite reumatóide e dois filhos pequenos que nunca estacionou no passeio num lugar onde toda a gente que o faz diz que o faz por não ter outra opção.

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  2. Cara RP

    eu fui buscar uma resposta que já tinha dado aqui no blog:

    não sei se mora num prédio sem elevador. mas imagine que é esse o caso e compra um guarda fatos para colocar em sua casa, mas ele não cabe.
    pode sempre deixar o guarda fatos na zona da escada desde deixe espaço suficiente para os seus vizinhos passarem. estou certo que nenhum deles a iria chamar a atenção...

    alias até eram capazes de aprovar a sua ideia e começarem a fazer a mesma coisa. talvez ai a Sra acha-se que não era muito boa ideia.

    encare o passeio como o prolongamento das escadas do seu prédio, e as pessoas que o utilizam como os seu vizinhos.

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  3. Não há nada que faça supôr que quem colou o autocolante no seu carro tenha, por sua vez, estacionado o seu próprio carro em cima do passeio, de maneira que, de duas uma: ou há transportes públicos, sim, ou há, sim, onde estacionar legalmente.

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  4. "É que até nem me importava de estacionar como deve ser e tal, mas não consigo, por isso tenho que me safar... " - essa é a frase arquetípica da nossa miséria.

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  5. Acho que há situações extremas como é dito pela sra RP, que tem de ser compreendidas. Mas se não há lugares é mesmo aí que devem estacionar, na estrada e não nos passeios.

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  6. "Há situações extremas que têm de ser compreendidas"? A sério? Situação extrema é quem vive naquelas escadinhas ou becos de Alfama, em ruas com um metro, se tanto, de largura. Esses moradores também têm o direito de estacionar o carro à porta de casa, ou não? A Câmara que alargue o beco para caber o carro...

    Sinceramente, ainda estou para perceber porque é que o estacionamento à porta de casa é um "direito" que se adquire automaticamente com a compra do carro.

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  7. Como já tive oportunidade de dizer uma solução que se pratica em algumas cidade europeias para a falta de estacionamento é a maioria das ruas passarem a ser de via única e a outra via ser para estacionamento e também para via de bicicletas. agora quero ver um automobilista ter coragem de sugerir isso...

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  8. A solução para tudo isto é os peões começarem a andar na rua, já que não o podem fazer no passeio. Penso que desse forma os automobolistas perceberiam desde logo o problema!

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  9. A única solução que não vale, sob qualquer critério de justiça e de civilidade que se adopte, é a tomada dos passeios e das passadeiras pelos carros.

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  10. Isto é tudo muito bonito, mas como finalista universitário que se desloca diariamente de vários transportes públicos e como possuidor de um automóvel, se calhar ao contrário de muitos dos queixosos desta iniciativa, só vejo exagero e uma certa hipocrisia. Queixam-se dos problemas dos passeios, de vedarem portas e demais abusos, mas depois deparo-me com situações como a do post http://passeiolivre.blogspot.com/2009/04/feche-os-olhos.html em particular o jipe ao centro. Se está correcto? Não, mas há muita coisa mal e não começa ali. Era bonito que pegassem neste movimento e fossem às câmaras e às juntas, que ficam a amealhar dinheiro (como os conhecidos casos de Lisboa e Oeiras) e nada fazem para resolver este problema e vocês a gastar dinheiro com gente que quer tanto estacionar o carro em cima do passeio como vocês. Tudo bem, agora vêm com a história do muitos têm alternativa, mas infelizmente a GRANDE maioria não tem alternativa. Falo por experiência própria, que a partir das 19h não tenho lugar para estacionar e não me refiro para não ter de andar 200m - aqui simplesmente não há lugares. As garagens são poucas e os descampados (vedados) são vários, mas estacionamento não é feito porque não estão para isso. Quero estacionar em cima do "meu" próprio passeio? Quero ter que pensar se deixo o carro num local perigoso (curva de sentido único) ou em cima do relvado do "meu" próprio edifício? Quer dizer.. e ainda me habilito a levar com um autocolante?
    As cidades estão sobrelotadas no que toca a veículos particulares e os transportes públicos em muitas situações não são soluções viáveis.
    Aprecio a vossa preocupação e aplaudo os vossos ideais, mas ambos estão seriamente mal aplicados.

    Um abraço

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  11. "É de louvar o seu altruísmo em deixar espaço para os peões passarem. Se calhar repara até que os peões contornam o seu automóvel. Nunca terá pensado porém, como é agradável andar a pé com um amigo lado a lado. Ou já terá imaginado a odisseia que um invisual tem de percorrer se quiser sair à rua. E acha que a medição a 'olhómetro' do que considera espaço suficiente chega para qualquer cadeira de rodas, ou para qualquer carrinho de bebé? Alguma vez tomou alguma atitude para que tivesse de deixar de estacionar ilegalmente?"
    Pergunto-me se o sujeito que respondeu conhece Lisboa antiga, onde garagens sao raras e o dito "passeio" grande parte das vezes nem uma pessoa passa, quanto mais uma cadeira de rodas ou um carrinho de bebé. Agradavel andar a pé com um amigo lado a lado? por favor isso ja entra no alcançe do ridiculo, pelo que entendi estamos a falar do que realmente incomoda como passagens obstruidas etc.
    Tambem me pergunto se estacionaria o carro 500m-1km de casa para nao parar em cima do dito passeio de 50cm que ninguem usa por ser mais comodo andar na estrada.
    Nao sou automobilista, sou peão em grande parte dos deslocamentos k faço diariamente, nao possuo carro ainda que na minha zona de residencia nao faltem lugares.
    Na minha opiniao nao vos compete fiscalizar o estacionamento e muito menos andar a colar autocolantes em propriedade alheia, ainda que nao seja comparavel a riscar a pintura dos carros, nao deixa de estar errado, e nao me admiraria se desse origem a actos de violencia, pois certamente eu nao gostaria de apanhar um sujeito qualquer a colar autocolantes no meu carro (nao digo que partisse para a violencia mas nem todos somos iguais).
    Concordo com o autor do protesto no sentido em que nem todas as situaçoes sao preto no branco, a meu ver como peão, pouca é a percentagem dos estacionamentos "ilegais" que realmente incomoda.
    No meu ver a vossa energia (e dinheiro aparentemente) seriam mais bem empregues em fazer chegar a situaçao a quem realmente pode fazer por isso.

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  12. Caro Eduardo Neto e anónimo das 18:47,

    Compreendam três coisas: 1) a maior parte das pessoas que estaciona nos passeios tem sempre "boas razões" para o fazer - eram só dois minutos, ou não tenho outro lugar são das mais frequentes; 2) mesmo que achem que alguns carros no passeio não incomodam, apesar de não estarmos de acordo, compreendam que incomodam sempre quem passa (principalmente invisuais) e estragará as calçadas que colocarão em perigo pessoas nos meses seguintes. 3) está a dar o exemplo a outros condutores que tornaram um pequeno problema que causou aos outros num enorme problema.

    O problema da falta de estacionamento não pode justificar de forma alguma pôr pessoas em perigo. Compreendam também que as cidades e as ruas têm limites e que é impossível acomodar todos os carros dos moradores. A maior parte das cidades europeias resolveu o problema do estacionamento sobre os passeios e não foi pela criação de mais lugares - em Paris ou Amesterdão em certos bairros terá que esperar 10 anos para ter direito a um cartão de estacionamento.

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  13. Comparar a cidade das 7 colinas à tábua rasa de Amesterdão dificilmente é comparação e, certamente, que a solução não surgiu por pressão aos automobilistas. Resolvam a questão como acharem apropriado, mas nos locais problemáticos estacionamento neste momento não existe - daí serem problemáticos. Podem dar a desculpa que quiserem para se justificarem pois, tal como me adiantei no meu post anterior, já estava à espera e acaba por não me responder à questão, pois lugares não há, então levo autocolante. Aposto que o consideram civilizado.

    Repito: apoio a iniciativa, abomino a concretização. E, novamente, não digo que não o façam com razão mas o principio é o errado. Talvez seja melhor começarmos a linchar seropositivos por espalharem sida, juntamente com os drogados. Não tenho doenças complicadas, felizmente, e não me interessa a solução ou a cura, só quero que desapareça. Hipócrita e anti-cívico. Felizmente sei que se isto pegar, muitos de vós um dia levam autocolante e aí sim vai ser engraçado, pois a falta de espaço nasceu para todos e esta iniciativa apenas quer ver um deles.

    Como refiro, o problema é mais profundo e quem anda nesta brincadeira está mais a desabafar do que a fazer algo útil, o que até percebo pois devo dizer que não suporto drogados, em particular aqueles que me vêm pedir moeda depois de estacionar o carro num local válido, e ainda pagar parquímetro, (até ignoro a parte que me está a ofender pessoalmente ao ajudar-me a estacionar, muitas vezes quando nem existem carros ao lado, quando eu da ultima vez que me lembro até tirei a Carta) tudo isto com o polícia a ver. Se calhar devia ir espetar autocolantes na testa do agente e do pedinchas.

    Até me esqueci que usei o termo linchar lá atrás, mas isso fazia-me uma pessoa de carácter duvidoso. Vai um autocolante.

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